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Artigo de Ney Lopes hoje na "Tribuna do Norte": "Quando negociei com a China"

Postado às 04h09 | 03 Abr 2019

Recepção dada pelo autor do artigo ao Presidente da Assembléia Nacional da China, quando de sua visita à sede permanente do Parlamento Latino Americano. Na ocasião o visitante recebeu a Medalha do Mérito Latino Americano.

A próxima investida dos “novos tempos” da nossa política externa será em relação à China. Após inquietações, as relações entre os dois países caminham para a normalidade. Os chineses são os principais parceiros comerciais do Brasil.

A política externa brasileira sofreu verdadeira “guinada diplomática”, com o rompimento de dogmas do Itamaraty como, por exemplo, a aliança com o estado de Israel, que poderá causar graves prejuízos, caso os árabes, em protesto, substituam as suas importações do Brasil pela Índia.

No primeiro momento do governo, a simpatia e admiração do nosso presidente por Trump ensaiou um “passo em falso”, ao comprar a falsa “briga” dos americanos com os chineses, verdadeira “canoa furada”, apenas “para inglês ver”. Ainda bem, que não embarcamos nessa...

Sabe-se que em matéria política existem diferenças entre Brasil e China. Porém, na economia, os chineses são o maior parceiro comercial do Brasil e sustentam o “agronegócio” nacional.

A acusação de que eles esgotam as reservas de recursos naturais é “questão de nossa responsabilidade”, no sentido de agregar valores, antes das exportações.

O importante é que prevaleça nas relações comerciais, em ambos os lados, a máxima de Deng Xiao-ping: “Não importa a cor do gato. O que importa é que ele cace os ratos". Ou seja, o importante é fazer o que tem de ser feito.

Os Estados Unidos agem assim com a Coreia do Norte, Arábia Saudita e outros regimes totalitários.

O papel do nosso país deverá ser de interlocutor na América Latina. Afinal, não é possível negar que a China se transformou em centro de gravidade da economia global, entre o Atlântico e o Pacífico.

Abre-se espaço para o Brasil ampliar alianças e parcerias comerciais em comum.

Pessoalmente tenho boa experiência com a China. Aprendi a técnica do “guanxi”, que é a “palavra chave” para alcançar a confiança recíproca. Negociei com os chineses, durante mais de cinco anos, quando presidi o Parlamento Latino Americano.

No final, em 12 de março de 2004, assinei, em Pequim, o histórico convênio de cooperação interinstitucional, no plenário central do Comitê Permanente da Assembleia Popular Nacional da República Popular da China, através do qual os dois organismos acordaram em colaborar entre si no campo parlamentar e realizar intercâmbios, visitas recíprocas, atividades e projetos de cooperação de interesse comum, em todos os âmbitos relacionados aos objetivos de cooperação, desenvolvimento e integração.

Um dos principais resultados dessa cooperação interinstitucional foi a “III Conferência Interparlamentar Latino-americana de Saúde”, realizada em 19 de maio de 2005, na cidade de São Paulo.  

Na oportunidade debateu-se o tema da “Medicina Tradicional e Complementar (MTC)” e a sua aplicação na América Latina.

A maior contribuição científica veio do médico Li Qiangou, ex-diretor do Hospital de Medicina Chinesa de Pequim e deputado da Assembleia Popular da China, que sugeriu formas de uso de medicamentos fitoterápicos, os quais posteriormente foram adotados em países centro-americanos.

O SUS hoje disponibiliza esses remédios, graças ao alerta do Parlatino, em 2005.

Várias vezes proferi palestras e participei de debates em Universidades e centros de estudos superiores, inclusive na Universidade de Westminster (2005), na organização, juntamente com professora Celia Szusterman, do seminário “China Estados Unidos e América Latina: relações Internacionais e Segurança”, que contou com a cooperação do Instituto inglês para o Estudo das Américas e o apoio da Universidade de Paris-Evry, a Escola de Economia de Paris (Delta), o Parlatino e o Real Instituto Elcano, de Madri.

O governo chinês sensibilizou-se com o convênio de cooperação interinstitucional de 2004 e passou a prestigiar o PARLATINO, o que perdura até hoje.

Em consequência dessa parceria foi construído o majestoso edifício sede desse organismo parlamentar, às margens do canal do Panamá. A minha ação administrativa na presidência da instituição foi decisiva para a concretização de tal objetivo.

Alguns conterrâneos que visitaram recentemente o PARLATINO, na cidade do Panamá, relatam a homenagem que me foi prestada à entrada do prédio, com uma fotografia. Não posso esconder que esse fato dá a sensação do dever cumprido, à época em que exerci mandatos de deputado federal em representação do RN e a presidência do Parlatino.

 

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