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Elio Gaspari: "Barbosa pode ser o novo, desde que não seja relíquia para ser levada em procissão"

Postado às 06h58 | 22 Abr 2018

Elio Gaspari

Joaquim Barbosa tem tudo para ser o “novo” na próxima disputa pela Presidência.

No Supremo Tribunal Federal foi sua mão de ferro que garantiu o encarceramento dos larápios do mensalão, abrindo a temporada de predominância de setores do Judiciário sobre a corrupção.

Condenando a articulação que depôs Dilma Rousseff, afastou-se do governo de Michel Temer.

Nunca foi candidato a cargo eletivo e não tinha base partidária.

Com essa biografia, o doutor admitiu a hipótese de ser candidato e filiou-se ao PSB.

Quando fez isso, sabia que esse partido é “socialista” no nome, mas poucas são as diferenças entre ele e os demais.

Menos de uma semana depois, revelou que vê dificuldades para sua candidatura, quer por causa das articulações estaduais quer por suas próprias incertezas.

A menos que as contrariedades sejam sinceras e essenciais, negaças de candidatos são coisa comum, e esses obstáculos acabam mostrando-se irrelevantes.

Essa circunstância faz a diferença entre o candidato que está disposto a ir para a estrada e aquele que pretende ser carregado num andor.

Na história do Brasil, só o general Emílio Médici chegou à Presidência sem se mexer, obrigando o Alto Comando do Exército a carregá-lo nos ombros.

Num regime democrático não há andores.

Tancredo Neves, numa sucessão embaralhada como a de hoje, construiu sua candidatura milimetricamente, encarnando a redemocratização.

As macumbas de todos os partidos contra Barbosa são coisas do velho contra o novo.

Ou ele dá um passo adiante e diz a que vem ou fritam-no.

Quando ele não opina sobre a reforma da Previdência (seja qual for) porque não é candidato, ofende a plateia.

Ele quer ser candidato e tem opinião sobre a Previdência, mas não quis se expor, usando um argumento do velho.

Numa eleição presidencial a biografia vale muito, mas o desempenho durante a campanha acaba sendo essencial.

Mário Covas e Ulysses Guimarães eram melhores candidatos que Fernando Collor na eleição de 1989, mas não chegaram ao segundo turno.

Asfixiaram-se na poeira de uma campanha em que os eleitores compraram um gato velho como se fosse lebre nova.

Tinham tempo de televisão e bases partidárias, mas elas de nada serviram.

Basta ver o que acontece no Congresso, no Planalto e até mesmo no Supremo para se perceber que um sistema político viciado tenta blindar-se impedindo que haja algo de novo na urna de outubro.

Se Joaquim Barbosa entrar na disputa disposto a denunciar tudo que o incomoda, a começar pelo coronelismo político, o Brasil ganha, pois o que se quer do “novo” são novas atitudes.

Se o que ele espera são palafreneiros conduzindo seu cortejo, todo mundo perde, inclusive ele.

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