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Taxa básica de juros no menor patamar da história: veja como investir

Postado às 05h01 | 12 Dez 2019

Globo

Com mais um corte da taxa básica de juros , a migração de recursos dos fundos de renda fixa (lastreados em títulos do governo) para fundos de ações ou multimercados vai se acentuar. São investimentos com maior risco, mas com possibilidade de maior retorno no atual cenário de Selic baixa.

Com juros reais de 0,64% ao ano, a rentabilidade dos fundos de renda fixa, especialmente aqueles que cobram taxas de administração acima de 1%, perde até para a caderneta de poupança, um dos investimentos mais conservadores do país.

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Um levantamento da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), que acompanha a indústria de fundos, mostra que taxas de administração menores que 1% são oferecidas apenas para investidores que aplicam entre R$ 25 mil e R$ 100 mil nesses produtos. Para quem aplica menos de R$ 25 mil, as taxas variam de 1,11% a 1,93%, o que torna esses produtos menos rentáveis para os pequenos aplicadores.

- O investidor vai ter que diversificar a carteira de investimento e tomar mais risco para obter melhor retorno - diz Marcelo Cidade, economista da Anbima.

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Ele lembra que quando a Selic estava em 14% ao ano era fácil ser um investidor conservador e obter uma rentabilidade generosa nos fundos de renda fixa. Agora, será preciso repensar a estratégia de investimento - seja um grande ou pequeno investidor.

Segundo regra estabelecida em 2012, quando a Selic está em 8,5% ou menos, a poupança rende o equivalente a 70% dos juros básicos mais a Taxa Referencial (que é quase zero). Assim, um novo corte de juros reduz sua rentabilidade.

Mas ela ganha competitividade em relação a fundos de renda fixa que acompanham de perto a Selic, que, além de perderem com o corte dos juros, cobram taxas de administração e imposto de renda com alíquota de até 22,5% para resgates de até seis meses.

Um cálculo feito pela Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac) mostra que com a Selic em 4,5% ao ano, a poupança terá rendimento mensal de 0,26%. Esse retorno é maior que o de fundos que cobram taxa de 2% ao ano ou mais em qualquer prazo de resgate.

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Em relação aos fundos que cobram taxa de 1,5% ao ano, aplicações em poupança são mais rentáveis entre prazos de 6 meses e 1 ano. Entre 1 ano e 2 anos, o rendimento mensal é igual ao da poupança.  Já os fundos de renda fixa, só ganham da poupança quando cobram taxas de administração menores que 1%.

- As aplicações lastreadas em juros, sejam fundos de renda fixa, CDBs, poupança e Tesouro Direto rendem menos com juros nesse patamar. Hoje, ter um rendimento de 100% do CDI (juro praticado entre bancos) equivale a ter uma rentabilidade de 4,5% ao ano, sem descontar a inflação prevista de 3,5%. Pagando taxas e imposto de renda praticamente o investidor não ganha nada — diz Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor de pesquisas econômicas da Anefac, observando que em países onde o juro é baixo o grosso dos investimentos está em renda variável.

Um levantamento da Economática, empresa de informações financeiras, mostrou que entre outubro e novembro os 204 fundos de renda fixa mais conservadores (tecnicamente chamados de fundos de duração baixa grau de investimento) acumulavam R$ 690 bilhões em aplicações, o maior volume de recursos entre os fundos de renda fixa, mas amargavam um rendimento de apenas 86,5% do CDI, na mediana.

Mudança para renda variável

A Anbima já detectou esse movimento de troca de renda fixa por renda variável desde o ano passado no Brasil. Em 2018, os investidores retiraram dos fundos de renda fixa R$ 13,5 bilhões, enquanto os fundos de ações tiveram captação positiva de R$ 24,8 bilhões e os fundos multimercado receberam aportes de R$ 39,1 bilhões.

Nos fundos de ações mais procurados, os gestores de investimentos podem replicar índices da Bolsa de Valores, como o Ibovespa, ou aplicar em ações que consideram as mais rentáveis. Com a retomada da economia, as empresas tendem a ter ganhos maiores e suas ações se valorizam nesse cenário. Os fundos de ações que replicam índices como o Ibovespa (chamados fundos de ações índice ativo) renderam, neste ano (ate dia 6 de dezembro), 32,91%.

Já os fundos em que os gestores escolhem as ações que consideram mais interessantes (fundos de ações livre), o retorno é de 32,41% ao ano. Entre os fundos multimercados (que podem aplicar recursos em juros, moedas e ações), o mais procurado é multimercado macro, que rendeu no ano 10,28%.

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- São produtos que podem dar maior retorno no longo prazo. Portanto, não são indicados para quem precisa do dinheiro aplicado em seis meses ou um ano - observa Miguel Ribeiro de Oliveira, da Anefac.

Este ano, até novembro, os fundos de renda fixa perderam R$ 3,9 bilhões, enquanto os de ações receberam aportes de R$ 67,5 milhões, o maior entre todas as categorias de fundos, e os multimercados receberam R$ 57,4 bilhões.

— A indústria também vai ter um aprendizado com este novo cenário e terá que oferecer mais títulos privados (de empresas) com prazos mais longos de vencimento e rendimento melhor. Esse movimento já vem acontecendo e vai se acentuar — diz o economista da Anbima.

Títulos lançados por empresas

Neste início de dezembro, algumas empresas estão emitindo títulos de crédito no mercado para captar recursos e voltar a investir. Serão emitidos pelo menos R$ 2 bilhões em Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) e Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs). São papéis de empresas como a Votorantim Cimentos, do frigorífico Minerva, da ISA CTEEP, transmissora de energia e da Vamos, de aluguel de caminhões e máquinas agrícolas.

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 Num cenário de juros baixos, o crédito privado é uma alternativa de investimento, mas é preciso observar caso a caso o rendimento, o risco de crédito da empresa, e o prazo de vencimento desses papéis, que costuma ser mais longo.

- Os CRIS e os CRAS são títulos de renda fixa isentos de Imposto de Renda. Esse costuma ser um fator de atração para a compra desses papéis, mas não pode ser o único. Geralmente são papeís com vencimento de três a dez anos, portanto, indicados para quem dispõe de médio/longo prazo para deixar o dinheiro aplicado  - diz Ricardo Rocha, professor de finanças do Insper.

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