Postado às 10h28 | 13 Jun 2021
Elio Gaspari
Quando Joe Biden venceu a eleição americana, Jair Bolsonaro levou mais de um mês para felicitá-lo.
Sua diplomacia acreditava na lorota de Donald Trump, que dizia ter sido roubado.
Quatro dias depois da eleição de Pedro Castillo, o capitão disse que “perdemos agora o Peru”, pois a seu juízo “só um milagre” reverterá a derrota de Keiko Fujimori.
Demorou para reconhecer um resultado e apressou-se para admitir o outro.
Nomeando Marcelo Crivella para a representação do Brasil na África do Sul, Bolsonaro entra para os anais da diplomacia como o primeiro chefe de Estado a nomear um embaixador que está proibido de deixar o país pela Justiça.
Depois de ter sido chamado de Bolsonero pela revista Economist, o capitão ganhou uma, na Inglaterra.
O British Museum abriu a exposição “Nero, o homem atrás do Mito”.
O imperador romano é dado por doido. Nero teria cantado durante o incêndio de Roma, em julho de 64. Coisa de milicianos da História, pois ele não estava na cidade.
Depois que Nero se matou, Roma foi governada por três generais num só ano. Nasceu assim a expressão “anarquia militar”.
Depois de ter publicado o magnífico “A Lebre dos Olhos de Âmbar”, o inglês Edmund de Waal, veio com um novo livro. É “Letters to Camondo” (“Cartas para Camondo”).
De Waal é um exímio ceramista e refinado intelectual. Nos dois livros, lida com a história de seus ancestrais, os banqueiros judeus Ephrussi e Camondo. Milionários em Viena e em Paris, foram empobrecidos e perseguidos pelos colaboracionistas franceses.
Quem já viu o quadro “Azul e Rosa”, de Auguste Renoir no Masp, achará suas duas meninas no livro. Elizabeth, a de vestido rosa, foi presa em 1944, aos 66 anos, e morreu em Auschwitz. Alice, a de azul, tornou-se Lady Cavendish e viveu até aos 89 anos.
Num capítulo, em doze páginas, De Waal expõe sem um único adjetivo o que foi a perseguição aos judeus na França. Em 1942 eles foram proibidos de sair à noite e de ter bicicletas.
A edição brasileira sairá no ano que vem.
A Caixa Econômica está estudando uma boa ideia: um subsídio para policiais militares que venham a comprar casa própria.
Esses policiais ganham mal. Contudo, sabe-se que Fabrício Queiroz, chevalier servant da família Bolsonaro, e Adriano da Nóbrega, o miliciano que chefiava o Escritório do Crime, estiveram na Polícia Militar do Rio. A iniciativa precisa de uma saída de emergência.
Se o policial se meter em falsos tiroteios, milícias ou serviços de segurança para contraventores, perde o subsídio e compensa a Caixa.
Sem isso, a iniciativa poderá virar um ProMilícia.
Madame Natasha chefia uma milícia para defender o idioma, usa carro blindado e veste capacete de escafandro, mais um colete à prova de balas.
Ela concedeu uma bolsa de treinamento ao ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde, coronel Élcio Franco, aquele que usava brochinho de caveira apunhalada. Ele foi à CPI e disse que a terceira fase dos testes de imunizantes era um “cemitério de vacinas”.
No dia da fala do coronel a Covid matou 2.334 pessoas.
Natasha acredita que ele podia ter dito “arquivo de vacinas”.
Bolsonaro não improvisa. Ao chamar o “nosso ministro da Saúde” de “um tal de Queiroga”, mostrou-lhe o cabo do punhal.
O repórter Juca Kfouri disse tudo:
“Cova America”.