Notícias

*A Existência Humana: A Jornada Entre o Nada e o Tudo*

Postado às 11h18 | 03 Ago 2025

Raimundo Mendes Alves - advogado e colaborador

A vida, em sua essência mais pura e crua, é um paradoxo. Nascemos sem possuir absolutamente nada — sem bens, sem títulos, sem poder, sem nome consolidado. Apenas uma presença vulnerável no mundo, sustentada por outros. E, à medida que o tempo passa, embarcamos numa corrida frenética: lutamos por espaço, reconhecimento, afeto, sucesso, segurança, estabilidade. Passamos décadas tentando “ser” e “ter”, como se o acúmulo fosse a medida do valor existencial.

Contudo, a inevitável verdade se impõe: ao final, deixamos tudo para trás. Nenhum bem material, nenhuma conquista profissional, nenhuma disputa vencida pode nos acompanhar além da finitude da vida. Partimos como viemos — de mãos vazias.

Essa realidade, que pode soar melancólica à primeira vista, na verdade é um convite à sabedoria. É um chamado para reavaliarmos o que realmente importa. Se a vida é uma passagem, o que estamos deixando como rastro? O que estamos construindo que vá além do que é perecível?

*A Ilusão do Acúmulo*
Vivemos em uma sociedade que supervaloriza o ter em detrimento do ser. Carreiras são construídas como fortalezas, títulos são empilhados como troféus, e relações muitas vezes são instrumentalizadas em nome de interesses e projeções. Mas o tempo, implacável e sábio, desmonta lentamente cada construção feita sobre bases frágeis. Os bens materiais se desgastam, os cargos são ocupados por outros, e a memória de nossos feitos se dilui, salvo raras exceções.

Essa constatação não deve ser motivo de desânimo, mas sim de libertação. Se tudo passa, então o essencial deve estar no que não passa: nos afetos sinceros, na dignidade de nossas ações, na ética de nossas escolhas, no legado imaterial que deixamos no coração das pessoas e na transformação que provocamos no mundo à nossa volta.

*Viver Com Propósito*
Há, portanto, um sentido mais profundo na vida que não se mede por posse, mas por propósito. O que nos move não deve ser apenas a ambição, mas o impacto. Como estamos fazendo os outros se sentirem? Que palavras plantamos no caminho? Que justiça promovemos com a nossa presença? Que valores estamos encarnando?

Viver com propósito é compreender que o tempo é limitado e, por isso mesmo, sagrado. É rejeitar o desperdício das horas com vaidades estéreis e abraçar causas que tragam sentido, mesmo que não tragam prestígio.

*A Partida como Continuidade*
E quando partimos? Partimos, sim, sem levar nada. Mas podemos deixar tudo. Podemos deixar amor, coragem, exemplo, ensinamento. Podemos deixar uma semente plantada no solo da existência que, mesmo após a nossa ausência, continue florescendo em outras vidas.

A morte, nesse sentido, não precisa ser o fim. Pode ser apenas o momento em que nos transformamos em herança viva — não material, mas espiritual e moral — para aqueles que continuam.

*Conclusão*
A vida é mesmo estranha. Mas é também extraordinária na medida em que compreendemos sua transitoriedade como uma oportunidade de fazer valer o presente. De viver com mais verdade, mais empatia, mais entrega. Afinal, entre o nada do início e o nada do fim, temos o tudo que é o agora. E é nesse intervalo que devemos encontrar o verdadeiro sentido de estar vivos.

 

Deixe sua Opinião