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Análise: "De Maquiavel às eleições de 2022"

Postado às 05h18 | 02 Mai 2022

Ney Lopes 

O ditado popular já diz, que “em boca fechada não entra mosca”.

Quer dizer, é melhor ficar calado, do que manifestar opinião imprópria.

A disputa eleitoral tem demonstrado, que Lula e Bolsonaro atualmente perdem votos quando falam e ganham quando se calam.

Se não mudarem, os dois chegarão empatados no primeiro turno.

Nos últimos dias, as declarações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) preocuparam os seus próprios correligionários.

A “pisada no pé” começou com as críticas ao consumo da classe média e prosseguiu na defesa aberta do direito ao aborto, a declaração de que Deus é petista e o incentivo à militância sindical para procurar deputados e seus familiares na casa deles e pressionar a favor de propostas que interessam ao eventual governo petista.

O núcleo da campanha considerou falas desastrosas e passou a preocupar-se com o impacto causado nos eleitores cristãos, na classe média brasileira e no eleitor independente, que define a eleição e move o pêndulo para a direita ou para a esquerda a cada disputa.

A consequência foi a mudança no marketing da pré-campanha, com a saída do publicitário Augusto Fonseca e a chegada do baiano Sidônio Palmeira.

Já Bolsonaro é useiro e vezeiro em declarações inconvenientes.

Ainda deputado federal manifestou no programa Câmera Aberta, na TV Bandeirantes, o propósito de votar em Luiz Inácio Lula da Silva, aconselhou os telespectadores a sonegarem impostos e ainda afirmou que a única solução para o Brasil seria uma guerra civil.

Em outra ocasião defendeu o fuzilamento de FHC. Recentemente, chamou de "idiota" e "imbecil" o ministro Luís Roberto Barroso, do STF, durante encontro com apoiadores.

Nas comemorações do último 7 de setembro verberou:  “Sai, Alexandre de Moraes, deixa de ser canalha, deixa de oprimir o povo brasileiro”.

Trazendo o pensamento de Maquiavel para o atual quadro político brasileiro, cabe lembrar o conselho do florentino, de que são prejudiciais afirmações públicas equivocadas feitas por candidatos.

O meio de evitar seria o cultivo da “boa informação e a prudência”, que conduza à decisão acertada. Maquiavel usou sua própria experiência para assim opinar no livro “O Príncipe”.

O texto é tão sincero, que causa calafrios, até hoje.

Também é uma das obras mais citadas em ciência política e lembrada como sinônimo de crueldade e frieza.

Os admiradores de Maquiavel contestam essa interpretação e explicam que ele foi pragmático e fez apenas uma leitura realista do mundo político, colocando a discussão da ética em termos práticos, com exemplos da vida real.

Maquiavel defendeu, que se torna imprescindível sempre fazer política, ao contrário daqueles que consideram nociva essa prática.

A frase os “fins justificam os meios” não consta no livro e nunca foi escrita por ele. Entretanto, há o conselho: “Não se afaste do bem, mas saiba valer-se do mal, se necessário”.

Uma análise sócio-política contemporânea demonstra que o Brasil não é exceção às crises globais.

Para cada período apresentam-se peculiaridades próprias, principalmente, em fases eleitorais.

Quem pretende chegar ao poder, não pode desviar seu comportamento e objetivos do processo eleitoral, ajustando-o às regras aceitas pelo povo. Aí nasce a expressão, que “o príncipe deve ser uma raposa para reconhecer as armadilhas e um leão para assustar os lobos”.

Se considerados os conselhos de Maquiavel, Bolsonaro e Lula poderão ser vítimas dos seus próprios comportamentos nessa fase de pré-campanha, com declarações dadas fora do contexto.

A lição do filosofo italiano é que a política não muda, o homem não muda, e, portanto, cabe tornar-se político participativo e falar de política a fim de que cada um se torne, simultaneamente, governado e governante.

Ao chegar no poder é inevitável aparecerem aduladores em busca de colocações ou empregos. Maquiavel é contundente ao afirmar a necessidade de evitar os aduladores, ouvindo-os apenas quando achar conveniente.

O que se conclui das marchas e contramarchas do cenário político nacional é a profunda complexidade da atual crise política, que envolve o governo, a economia, a sociedade civil e também candidatos.

O marketing eleitoral será obrigado a aceitar, que a política não pode ser negada ou rejeitada, por ser o único meio de solucionar os problemas da nação.

Para isso, os protagonistas das eleições deverão saber a hora de falar e de calar.

É isso que falta aos líderes das pesquisas presidenciais no Brasil.

Ainda há tempo de mudar esse estilo intempestivo. (Artigo publicado no último sábado na Tribuna do Norte, Natal e no Diário do Poder, Brasília, DF)

 

 

 

 

 

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