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Análise: "O que Brasil ganha ou perde na eleição argentina"

Postado às 06h10 | 13 Nov 2023

O debate de ontem à noite entre os candidatos Milei e Massa, na Argentina

Ney Lopes

O acirramento da disputa presidencial na Argentina, entre Milei e Massa, traz sempre a indagação sobre “ganhos e perdas” para o Brasil, se um ou outro ganhar a eleição.

No debate de ontem, 12, à noite, o Brasil foi tema do confronto.

Massa criticou Milei por querer romper o diálogo com os dois principais parceiros comerciais argentinos, Brasil e China.

Na resposta, Milei mencionou que Alberto Fernández também não falava com (o ex-presidente) Jair Bolsonaro.

Disse ainda, que não interferirá em questão do mercado privado e o Estado não tem porque se meter.

Cada vez que se mete gera corrupção.

No momento, as pesquisas mostram que é impossível prever quem ganhará no próximo domingo, embora o candidato da direita tenha pequena margem a frente.

O fato mais impressionante é que 2/3 do eleitorado argentino manifesta-se contra os dois candidatos, segundo as pesquisas.

Isso, caso abstenção seja alta, poderá prejudicar Milei, que encontrará dificuldades de levar os indecisos às urnas para sufragá-lo.

Alguns analistas aconselham não interpretar ao pé da letra algumas afirmações de Milei, pois ele na presidência seria obrigado a adotar comportamento pragmático.

Entendem que  nas campanhas muito polarizadas, os candidatos tendem a ir aos extremos.

Entretanto, no segundo turno a tendência do candidato passa a ser tentar cooptar o centro para capturar os votos necessários à sua eleição.

O que se diz em campanha, não é exatamente o que o eleito segue depois de chegar ao poder.

Milei acredita ser necessário "eliminar" o Mercosul.

Todavia, uma decisão dessa tem muitas implicações na economia do próprio país e nas relações com os demais.

Por exemplo, Milei eleito terá interesse no acordo latino-americano com a União Europeia, que vem sendo negociado desde 1999 e para isso ele não poderá eliminar o Mercosul.

Os entendimentos para concretizar o acordo são negociados pelos quatro países do Mercosul em conjunto.

Se Milei retirar a Argentina do bloco, isso poderia ter impactos negativos logo no início do seu governo.

Não ganharia nada e poderá perder muito.

Afinal, por mais convicções que Milei tenha de ultradireita, não justificaria ter comportamento de “birra” e assim desalinhar o relacionamento comercial, causando perdas irreparáveis numa hora de reconstrução do seu país

A vitória de Milei pode garantir ganhos ao Brasil.

Seria a possibilidade deles (argentinos) experimentarem uma mudança nos rumos na condução da economia que, ao longo de várias décadas, tem seguido uma linha de prioridade aos mecanismos de estado para dar impulso econômico.

Milei poderá priorizar a iniciativa privada e abrir espaços para o empresariado, inclusive brasileiro, negociar na Argentina.

Afinal, Argentina tem sido o principal destinatário de bens industrializados exportados pelo Brasil, que poderá entrar em colapso, se prescindir desses produtos.

A dolarização total da economia argentina, poderia ter efeitos positivos para o Brasil, caso bem-sucedida, o que é difícil.

A dolarização levaria a uma só cotação (do dólar) e isso facilitaria tremendamente a relação comercial entre os países

A vitória de Massa pode trazer ganhos e perdas para o Brasil.

No campo econômico, as possíveis vantagens para o Brasil seriam: aumento do fluxo comercial entre os dois países (caso Massa estabilize a economia), fortalecimento do Mercosul e apoio para finalizar o acordo comercial entre o bloco e a União Europeia.

A indústria automotiva brasileira seria um dos setores que poderiam se beneficiar, caso Massa reconstrua realmente a economia argentina.

Há aspectos negativos, na eventual vitória de Massa.

Existe desconfiança sobre a capacidade que Massa tem de implementar medidas que retirem a Argentina da crise econômica, uma vez que ele já é o ministro da Economia do país e pertence a um grupo político ao qual é atribuído parte da responsabilidade pelo atual cenário.

Massa representa a continuidade do peronismo, que significa a manutenção de um governo e de uma visão econômica que tem sido a principal causa de todo esse quadro de colapso da economia argentina.

A suposta proximidade entre Massa e o governo dos Estados Unidos poderá gerar divergências dentro do peronismo.

Isto porque, os Estados Unidos seriam contra o ingresso da Argentina no Brics, uma vez que o grupo inclui dois rivais geopolíticos do país: Rússia e China.

O fato também enfraqueceria Lula, que é o principal padrinho da entrada argentina no Brics.

A verdade é que, independente de quem vença as eleições, o ganhador terá um enorme desafio em suas mãos.

Seja qual for o vencedor, a economia argentina está sob risco enorme de um problema muito sério em 2024.

Fatalmente, o Brasil e suas empresas, que têm relações com a Argentina, vão sentir esses efeitos.

O que se espera é que, definido o resultado eleitoral, não falte bom senso aos vitoriosos.

 

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