Análise: "Primeiras damas do Brasil e da Nicarágua"
Postado às 07h21 | 28 Mai 2025
Ney Lopes
Na hora em que se discute no Brasil o papel da primeira dana Janja das Silva, o jornalista Rodrigo da Silva publica análise no “Estadão” sobre a primeira dama da Nicarágua, Rosário Murillo. O texto mostra exatamente contrário do que uma primeira-dama não deve fazer numa democracia consolidada.
A Frente Sandinista de Libertação Nacional foi um movimento guerrilheiro de orientação marxista-leninista, nascido na América Latina e inspirado na Revolução Cubana.
Com apoio cubano, os sandinistas cercaram a capital da Nicarágua em 1979, fortemente armados e o ditador Daniel Ortega assumiu o poder, até hoje. Ele está a caminho do seu 30º ano no controle do país.
A intenção de Ortega é transformar a Nicarágua em propriedade familiar.
Começou abandonando o papel tradicional e cerimonial de primeira-dama para ela assumir funções oficiais estratégicas no governo.
Em 2016, transformou a esposa em vice-presidente.
Daí em diante se referia a ela como “presidente”.
A primeira-dama centralizou os boletins de todos os ministérios.
Desde então, consolidou o seu poder. Eliminou rivais e acumulou funções.
Ninguém move um dedo no governo sem a autorização dela
Todos eram submetidos à Rosário Murilo, à exceção de Zoilamérica Narváez, filha que a “presidenta” da Nicarágua teve com o seu primeiro marido, Jorge Narváez Parajón.
Zoilamérica acusou Ortega de abuso sexual, quando ela tinha 11 anos.
“Tenho medo da minha mãe. Uma pessoa com tamanha obsessão pelo poder é capaz de qualquer coisa” declara Zoilamérica. Hoje, vive exilada na Costa Rica.
No Brasil, por exemplo, a Constituição não atribui qualquer função administrativa ou poder formal à primeira-dama.
O seu papel tem um status meramente simbólico e voluntário.
A esposa do presidente não possui um mandato político.
Quando um cônjuge extrapola o seu cargo cerimonial, assumindo funções políticas de fato, passa a representar uma ameaça às instituições democráticas.
As democracias não exigem a invisibilidade do cônjuge de um governante, porém com limites definidos.
Quem ocupa esse cargo tem um papel limitado de apoio e representação social,
No Brasil há sinais de preocupação.
Não é papel de Janja, por exemplo, falar em nome da diplomacia brasileira
Desde a campanha de 2022, ela demonstra que o seu objetivo é “ressignificar”o cargo de primeira dama.
Primeiro não é cargo, sim função honorífica.
Nada de errado que a primeira dama assuma a sua personalidade, com inovações, sem que, entretanto, sejam no sentido de assumir funções de protagonismo no governo.
Não se trata de atacar a presença feminina no espaço público, mas apenas ter bom senso e inteligência.
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