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Cidadão do mundo, Ari Cunha era exímio contador de histórias

Postado às 07h51 | 02 Ago 2018

Jornalista Ari Cunha, do Correio Braziliense, faleceu em Brasília, Homenagem póstuma a esse honrado profissional do jornalismo brasileiro.

Faleceu na última terça, em Brasília, o jornalista Ari Cunha.

O editor do blog rende merecida homenagem póstuma a esse valoroso jornalista.

Em Brasília, no exercício de mandato de deputado federal o editor testemunhou a conduta ética de Ari Cunha, numa convivência de anos.

A sua conceituada coluna não abrigava insultos, nem inverdades.

Ari Cunha era fiel à verdade dos fatos.

Merece o Eterno respeito do jornalismo brasileiro.

CORREIO BRAZILIENSE PUBLICA HOJE, 2, TEXTO BIOGRÁFICO DE ARI CUNHA, A SEGUIR TRANSCRITO:

O jornalista Ari Cunha, que morreu terça-feira, aos 91 anos, era exímio contador de histórias. Bem-humorado, tinha sempre ditados cearenses na ponta da língua. Criou até um alter ego, o Filósofo de Mondubim, para atribuir algumas das citações que recheavam os causos do dia a dia e as notas da coluna Visto, lido e ouvido.

Era natural, então, que Ari fosse também protagonista de boas histórias, permeadas não só pelo humor característico, mas também pelos gestos de generosidade e humildade. Dos passeios cheios de pílulas de sabedoria pelas ruas de Brasília ao prato que ganhou seu nome em um restaurante da capital, familiares, amigos e funcionários se lembram de alguns desses momentos marcantes ao lado de Ari.

A história da professora e psicóloga aposentada Beatriz Maria de Oliveira Cunha, 55 anos, e da família de Ari Cunha se misturaram desde que ela nasceu, em 1962. “Fomos os primeiros moradores do Bloco K da 305 Sul. Eu morava com meus pais e irmãos no quarto andar, enquanto o Ari e a família dele moravam no primeiro. Os filhos dele e eu crescemos juntos. Éramos uma grande família. Sempre que possível, o Ari almoçava no nosso apartamento. Sobretudo, quando a comida era estrogonofe, algo que ele amava. O Ari não tinha cerimônia. Se precisasse, ele sentava no chão”, recorda-se.

Para Bia, como é chamada, as melhores lembranças são de quando Ari Cunha abria as portas de sua outra casa, no Setor de Mansões do Lago Norte. “Todas as festas que aconteciam lá, eu ia. Aquele lugar é maravilhoso. Assistir ao pôr do sol era uma das minhas atividades favoritas”, comentou. A beleza do lugar fez Bia pedir algo inusitado a Ari: quando ela decidisse se casar, gostaria que a cerimônia fosse realizada no local.

“E eu acabei realizando este sonho. Só não imaginava que eu iria me casar com o filho dele”, admitiu, aos risos. Bia é mulher do filho mais velho de Ari — Ari Lopes Cunha, 66, ex-técnico gráfico do Correio — há 20 anos. Do sogro, Bia se recordará da personalidade acolhedora. “Ele fazia questão de manter a família por perto. Todo fim de semana gostava de reunir os filhos, netos e demais parentes para fazer um almoço. Ele era um homem que carregava grandes valores, como amor e carinho. Uma pessoa muito humana, que queria o bem de todos”, comentou.

 

Nome de prato

O empresário Marco Aurélio Costa, 68 anos, foi o dono do restaurante Piantella por 40 anos. Do tradicional restaurante localizado na quadra 202 Sul, guarda na memória as histórias de clientes fiéis. Ari Cunha era um deles. “Tinha até um sanduíche com o nome dele”, lembrou. O “Ari Cunha” era feito de tiras de filé bem finas, ovo frito e cebola caramelizada.

Criado em 1984 pelo próprio Ari, o prato fez tanto sucesso que entrou no cardápio da casa, sem direito a pagamento de royalties ao autor. “Era um sanduíche muito pedido. Quem mais gostava dele era o ex-senador Luís Eduardo Magalhães”, disse Marco Aurélio.

O ex-dono do Piantella recordou-se também da época em que Ari Cunha aparecia diariamente no restaurante para confraternizar com algum conhecido. “Ele não abria mão do seu drinque e da conversa com os amigos. O happy hour era todo dia, das 18h às 21h, no máximo.”

 

Pela cidade

O cearense que aprendeu amar Brasília gostava dos ipês da cidade. “Brasília é uma floresta”, dizia quando circulava de carro pelo Eixinho. Durante as manhãs, apreciava um café em casa, observava os passarinhos e, quando estava frio, aconchegava-se próximo à lareira da residência.

Ari Cunha gostava das coisas simples: de passear por Brasília, de ir à Ponte JK, passar pelo Aeroporto e pelo Buraco do Tatu: “Aqui é o marco zero”, explicava quando estava com o motorista Ricardo Nogueira dos Santos, 42 anos.

“Sabe quem construiu essa ponte (JK)? O Oscar Niemeyer”, contou Ricardo, ao relembrar das histórias narradas pelo jornalista. Morador do Lago Norte, Ari vivia perto da casa do ex-ministro Jarbas Passarinho, que morreu em 2016. Gostava de visitá-lo e, mesmo quando não ia, lembrava-se dele ao passar pela residência onde o amigo morava. “Uma vez o Jarbas Passarinho chorou ao ver o seu Ari”, recorda Ricardo que levava o vice-presidente do Correio para compromissos.

Ricardo, que dirigia para Ari há seis anos, destacou a sabedoria do jornalista. “Ele tinha muito conhecimento. Às vezes, falava algumas palavras difíceis que você via que vinham de uma pessoa estudada. Mas, ao mesmo tempo, ele era humilde. Uma pessoa muito boa.”

 

Generosidade

Assim como Ricardo, Aldaci Oliveira, 64 anos, dirigiu para Ari Cunha por 25 anos. Ele se lembra que um dos lançamentos da marca Hyundai, um Sonata, foi para o presidente do Correio. “Ele me chamou e disse: ‘Olha, você vai ficar com esse carro na sua casa e, quando eu precisar, você me pega’”, recorda Aldaci, com bom humor.

Quando tinha compromissos em algum restaurante, Ari Cunha fazia questão que Aldaci se sentasse em uma mesa em que ele pudesse ver o motorista. “Ele fazia questão de que eu me servisse. Nunca me faltou nada. Era uma pessoa que gostava de comer bem, em bons restaurantes, e que gostava de conhecer o mundo.”

 

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