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De Minervino Wanderley: "Quero meu mundo de volta!"

Postado às 16h50 | 09 Out 2021

O jornalista e editor do blog "Pense numa notícia", Minervino Wanderley, é o autor do texto a seguir transcrito.

O estilo do autor realça uma comparação entre o presente e o passado, renascendo no leitor as lembranças e saudades de fatos longínquos.

Parabéns!

O mundo ficou sem graça, chato, enfadonho, esnobe e cheio de frescuras. Não quero este mundo. Não pense, caro amigo, que vai ser mais um papo sobre saudosismo. Apenas quero aquele mundo no qual a gente podia dizer o que quisesse e que não havia ninguém pastorando. É verdade. Um exemplo? Creio que da turma de meninos da rua e do colégio poucos eram chamados pelo nome. Todos tinham apelidos. Era Cabeção, Bolo Preto, Bucho de Lama, Tronco de Amarrar Cachorro, Mergulhador de Aquário, Vela Branca (eu), Perna de Alicate (eu também), João Galego, Negão, Espanador da Lua, Cabelo de Bucha, Zeca Calango, Sérgios Sapão e Sapinho, Cláudio Burrão, Piru, e mais um bocado. Nenhum chorava por isso nem muito menos perdia o sono. Era assim mesmo. Hoje é tudo corretamente político, cheio de mi mi mi, “buylling” e outras besteiras mais. Se o cara disser “Que nêga bonita!”, é enquadrado numa porrada de leis. Racismo é a primeira. Hipocrisia pura! O que mais tem é piada da “loira burra” e ninguém diz nada.

Quero meu mundo de volta!

Quero voltar a cometer um pecado ao olhar para as anatomias das professoras, depois rezar e ser perdoado. (Deus via tudo e era compreensivo). Quero andar de noite a pé do cinema até em casa e que a pressa seja só para chegar mais cedo e dar tempo de comer um bolo ou umas bolachas antes de dormir. Quero bater pelada no meio das ruas e ver os carros pararem para não passar por cima da bola. Quero roubar um beijo daquela menina de tranças sem ser chamado de assediador. Ora, a danada queria mesmo! Quero brincar carnaval cantando e brincando nos blocos. Quero os domingos na praia e, no final da tarde, uma matinê no América, ABC, Assen, Atlântico, qualquer um clube, e não de frente para a TV assistindo ao Fantástico e outras baboseiras.

Quero meu mundo de volta!

Quero que os mais velhos sejam respeitados e voltem a ser chamados de “Senhor” e “Senhora”. Principalmente os pais, que fique registrado. Quero o namoro de mãos dadas. Quero o “sarro”, é claro, mas tudo no seu devido tempo. Quero que futebol e política sejam discutidos até que um cabra tome a frente e diga: “Futebol, política e religião não se discute.” E o bate-boca acabe na hora.

Quero meu mundo de volta!

Quero o Machadão cheio de torcedores do ABC, América, Alecrim (claro!). Quero ouvir Hélio Câmara se esgoelando na Rádio Cabugi e deixando a torcida mais nervosa ainda. Saudades dele. Quero o jornal (impresso) da segunda-feira contando tudo que houve no fim de semana. Quero tomar uma lapada de cana com picado – do Monteiro, é lógico. Quero tomar um whisky escocês e me sentir um lorde. Quero botar uma roupa nova e ter a sensação de que todos estão olhando para mim.

Quero meu mundo de volta!

Quero as fogueiras de São João nas ruas. Quero ver as quadrilhas e morrer de rir com os casamentos que tinham os pais das noivas apontando uma espingarda para os noivos. Case não, cabra! Quero o cheiro da canjica sendo feita, do milho sendo assado, da pamonha já pronta. Quero minha calça Far-West e uma camisa quadriculada para parecer um matuto. Quero ouvir Luiz Gonzaga e assistir o povo dançando forró. Quero ver os balões iluminando o céu, os foguetões acordando os anjos, os rojões botando a meninada pra correr.

Quero meu mundo de volta!

Quero, hoje, que Deus me dê tolerância para ver tantos desmandos no Brasil. Quero que meus sonhos sejam viagens ao passado. Quero suportar as dores das partidas de pessoas tão queridas. Quero firmar as amizades que tenho. Quero estreitar os laços de família, já tão fragmentada. Quero ganhar numa Mega-Sena bem acumulada e ajudar a determinadas pessoas. Quero pegar o resto da grana e viajar pelos lugares lindos do nosso planeta. Quero, por fim, ter saúde para ver como as coisas estarão daqui a uns vinte anos. Quero chegar no céu e dizer a São Pedro:

Quero meu mundo de volta!

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