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E se der Joe Biden nos Estados Unidos? Como fica o Brasil?

Postado às 05h42 | 22 Out 2020

Celso Ming

Na campanha eleitoral dos Estados Unidos, a política econômica vem sendo uma falsa ausente. Os temas da área parecem esquecidos, mas permeiam os demais.

Os debates têm focado mais a questão racial, a maneira desastrosa com que Trump enfrentou (ou não enfrentou) a pandemia e sua incapacidade de liderar o país e o mundo. Mas a insatisfação com o desemprego, com a perda de renda, com a destruição de pequenos e médios negócios e com a falta de visão social na distribuição de ajudas está por detrás de tudo.

Se as pesquisas não errarem tanto quanto erraram na eleição de 2016, o morador da Casa Branca a partir de 20 de janeiro será o democrata Joe Biden

Para enfrentar o mau desempenho da economia, na maior crise desde os deprimentes anos 1930, Biden promete aumentar as despesas públicas e, em contrapartida, pretende arrancar do Congresso um aumento de impostos, especialmente sobre o lucro das empresas e sobre a renda dos mais ricos.

Alguns analistas ainda preveem reação negativa dos mercados financeiros caso se confirme a vitória de Biden. Mas, depois do recado tão insistente e tão enfático passado pelas pesquisas de intenção de voto, esse resultado já deve ter passado para o preço. 

A intensidade da reação dos mercados vai depender da abrangência do provável triunfo democrata. O pior dos mundos seria uma vitória apertada que levasse a questionamento judicial, de desfecho demorado e imprevisível. Mas se a margem de votos for ampla e, mais do que isso, se os democratas conquistarem maioria no Senado, as incertezas se reduzirão e ficará mais fácil a aprovação de decisões importantes de política econômica no Congresso.

De um governo Biden se espera um retorno aos termos do Acordo de Paris e, portanto, uma política ambiental mais consistente do que a de Trump. Assim, deverá dar apoio para mudanças na matriz energética dos Estados Unidos em direção à obtenção de combustíveis renováveis. O programa democrata prevê o desembolso de US$ 2 trilhões em “investimentos verdes”.

Ainda sobre iniciativas de importante impacto econômico, espera-se a ampliação do Obamacare, programa de saúde pública iniciado pelo presidente Barack Obama e boicotado por Trump por considerá-lo “socialista”. Não há estimativas sobre o quanto exigirá em verbas públicas.

E há o desafio chinês, que vai se firmando como maior economia do mundo (ver Coluna de 18 de outubro: A China já é a maior economia do mundo). A percepção do americano médio é de que a agressividade do comércio exterior da China e o grande impulso que vem dando para Pesquisa & Desenvolvimento estão asfixiando a economia americana, porque obrigam as fábricas a migrar para o exterior ou a aumentar a automação e, assim, a reduzir empregos. 

Não está claro que programas de aumento da capacidade concorrencial das empresas dos Estados Unidos sairão das pranchetas dos técnicos do governo Biden. Mas é certo que o enfrentamento com a China continuará forte, embora com estratégias não tão truculentas como as adotadas por Trump em sua Nova Guerra Fria. Em substituição ao slogan de Trump “America first”, Biden acena com “America will lead again”.

Nesses dois anos, o governo Bolsonaro manteve com o governo Trump uma política muito próxima da subserviência. Uma vitória de Biden produziria algum estrago na política externa do atual governo brasileiro. Mas não se deve exagerá-lo. As relações entre Brasil e Estados Unidos têm sido marcadas pelo pragmatismo e não vai ser a mudança de cor na administração americana que vai produzir uma ruptura ou um afastamento radical.

 

 

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