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Editorial do Estado: "O medo de Lula e Bolsonaro"

Postado às 09h18 | 25 Jul 2021

Estado

No mesmo dia, Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro manifestaram por meios diferentes – um no Twitter, o outro numa entrevista à rádio – o mesmo medo. Os dois temem que haja um terceiro candidato competitivo nas eleições de 2022 e não perdem oportunidade de desautorizar uma candidatura viável de centro.

Além de mostrar a estreiteza de horizontes políticos que Lula e Bolsonaro querem impor à população, a tática revela a plena viabilidade de um candidato honesto, competente e equilibrado. De outra forma, Lula e Bolsonaro não estariam tão empenhados – quase que de mãos dadas, pode-se dizer – ridicularizando uma candidatura de centro.

“A terceira via – escreveu Lula em sua conta no Twitter – é uma invenção dos partidos que não tem candidato. Falam em polarização... O que tem de um lado é democracia e do outro é fascismo. Quem está sem chance usa de desculpa a tal da terceira via.” E explicitando o seu receio de que haja uma reunião das forças democráticas em torno de um candidato de centro viável, o ex-presidente petista concluiu: “Seria importante que todos os partidos lançassem candidato e testassem sua força”.

Como se pode ver, Lula não mudou nada. Coloca-se, nada mais, nada menos, como a própria representação da democracia e, para completar o atrevimento, rejeita a possibilidade de que exista uma outra candidatura viável para enfrentar Jair Bolsonaro. É a “democracia” nos moldes petistas – só é democrático quem apoia Luiz Inácio Lula da Silva.

A tentativa petista de monopolizar a oposição a Jair Bolsonaro tem um objetivo cada dia mais explícito. A polarização com o governo Bolsonaro é uma maneira de desviar a atenção do enorme passivo de corrupção, incompetência e negacionismo que marca a história do PT.

Lula não pediu desculpas à população pelos escândalos de corrupção do PT nem pelo desastre econômico que foi o governo de Dilma Rousseff. Também não explicou a razão pela qual está envolto em tantos processos penais, processos nos quais se defende por meio de questões formais. O País não ouviu até hoje do ex-presidente Lula nenhuma explicação para tantos mimos e agrados recebidos de empreiteiras.

Eis o ponto central. Uma candidatura viável de centro exigirá que Lula explique o passado do PT e apresente um mínimo de propostas para o País. Já não bastará ficar falando mal de Jair Bolsonaro, como se algumas palavras de crítica por si sós pudessem lhe dar credenciais para merecer a confiança e o voto da população. Para o PT, a polarização com o bolsonarismo é uma maneira fácil de rebaixar o debate público a um nível bem baixo, sem precisar enfrentar o desastroso histórico do partido.

E o mesmo ocorre com Jair Bolsonaro. O ex-capitão precisa que as opções políticas estejam restritas a um lamentável e irresponsável binarismo entre Lula e ele, para que sua reeleição tenha alguma nota de viabilidade. A simples existência de um candidato viável de centro, competente e honesto, escancara o absurdo que seria dar mais um mandato de quatro anos a quem se esforça todos os dias para ser o pior presidente da história do País.

Por isso, Jair Bolsonaro tenta que o eleitor não disponha de nenhuma opção além do bolsonarismo e do lulopetismo. “Tem uma passagem bíblica que diz, seja quente ou seja frio, não seja morno. Então, terceira via, povo não engole isso aí”, disse em entrevista à Rádio Itatiaia. Felizmente, a população tem outra percepção da política, um tanto mais equilibrada. Na última pesquisa do Instituto Datafolha, 59% dos entrevistados disseram que não votariam de jeito nenhum em Bolsonaro. Não há intolerância da população com o centro. A intolerância é com a irresponsabilidade, o negacionismo e o desgoverno.

Em relação a uma candidatura viável de centro, Jair Bolsonaro repetiu o seu mantra. “Não vai dar certo. Não vai agregar. Não vai atrair a simpatia da população. Não existe terceira via. Está polarizado”, disse Bolsonaro, em uníssono com Lula. O medo dos dois é rigorosamente a esperança do País.

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