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Entrevista: ‘Bolsonaro e Lula são incapazes de dialogar’, diz Mandetta

Postado às 08h56 | 08 Abr 2021

Globo

Após o manifesto da semana passada, assinado pelo senhor, os governadores João Doria (PSDB) e Eduardo Leite (PSDB), o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), o empresário João Amoedo (Novo) e o apresentador Luciano Huck, quais são os próximos passos do grupo?

Aquilo retrata que a gente tem dialogado. A ameaça à democracia gerada por aquela crise militar absurda da semana passada foi grande o suficiente para que a gente tenha se manifestado em bloco. Temos nos falado.

O senhor vê possibilidade de os seis juntos em projeto único em 2022?

A gente está trabalhando para isso.

Ciro Gomes difere dos outros signatários por ter uma bandeira desenvolvimentista na economia. Isso é uma barreira para estar no grupo?

A gente deve começar vendo os pontos de convergência. Em relação aos pontos de divergência, você trabalha, analisa, dialoga. Quem não tiver capacidade de dialogar não vai conseguir liderar o país. Os outros dois polos extremos não são polos de diálogo. São duas agendas impostas goela abaixo. O Ciro é um democrata. Ele argumenta, escuta. Os pontos de convergência são muito maiores.

A equivalência entre Bolsonaro e Lula é questionada por muita gente. O senhor vê Lula e Bolsonaro de forma equivalente?

Acho que eles são muito parecidos. Ambos são incapazes (de dialogar). Em todos os temas, eles querem dividir a sociedade. Os dois adoram programas assistenciais. São incapazes de entender que o melhor programa é a geração de emprego, é a liberdade das pessoas. Ambos gostam muito de serem detentores dos polos mais frágeis para a capitalização política. Os dois entraram na Presidência e fizeram a mesma grosseria com o Congresso. O Lula foi lá e falou: eu vou pagar uma mesada, e fez o mensalão. O Bolsonaro entrou, brigou, brigou. Não conseguem dialogar com as forças que são mais passíveis de conversar.

O senhor acha que no governo Lula também houve ameaças à democracia?

Houve agressão à democracia naquela coisa de cooptação do Congresso. Acho que o mensalão foi muito feio para a democracia porque o Executivo entrou e comprou os votos para passar os seus projetos. E houve maior escândalo de corrupção que você já viu.

Num eventual segundo turno entre os dois, o que o senhor faria hoje?

Eu não trabalho com pesadelo, não.

Quando o senhor optou pelo Bolsonaro em 2018, não acreditava que ele provocaria os problemas que o senhor aponta hoje?

Eu passei por vários votos na minha vida. Votei no Mário Covas (em 1989). No segundo turno, era (Fernando) Collor e Lula e acho que eu votei no Collor. Se votaria de novo no Collor? Não. Votei as duas vezes no Fernando Henrique Cardoso e acho que ele foi bem dentro do que dava para fazer naquele momento. Agora, sobre Lula, Bolsonaro, não tenho nada contra eles, não. Só estou constatando uma parcela enorme da população, mais de 54% nas pesquisas, que não querem votar nem em um nem em outro. Estou nesse grupo.

O que seria o cerne da terceira via para tentar encantar as pessoas?

O futuro, esperança, saber onde a gente vai estar em 2030, em 2040.

Como administrar dentro do grupo as ambições pessoais?

Com conversa. E outra: vai ter que dialogar com o radical do Bolsonaro e com o radical petista. Vai ter que conversar com esse povo.

Como o sr. viu o projeto que permite a compra de vacinas pela iniciativa privada aprovado pelo Congresso?

Não tem nenhum nexo, nem ético, nem do ponto de vista de saúde pública, nem do ponto vista econômico. Vai comprar as doses e vacinar as pessoas que estão entre 18 e 35 anos e deixar de dar para quem está entupindo o hospital, que está morrendo, e é ele que está parando a economia. É o mesmo erro de vacinar caminhoneiros, policiais. A vacinação é para ser feita pelo risco epidemiológico, não pelo risco ocupacional.

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