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"O futuro incerto do Afeganistão" - Ney Lopes hoje no jornal "Tribuna do Norte"

Postado às 05h21 | 15 Set 2021

Com a retirada militar dos Estados Unidos do Afeganistão, o mundo acompanha com apreensão, qual será o futuro de um dos países mais pobres do mundo (dois terços de sua população vivem com menos de dois dólares/dia).

Agora, os Talibãs voltaram ao poder, logo após posição correta assumida pelo Presidente Biden, que teve respaldo no acordo firmado em fevereiro de 2020, quando o então presidente Trump se comprometeu a retirar as tropas, em maio de 2021.

Hoje, o ex-presidente critica a sua própria decisão.

A ascensão do Talibã transformou o Afeganistão, no centro da disputa geopolítica mundial.

Por incrível que pareça, os talibãs surgiram na década de 80, como milícia armada fundamentalista, recebendo total apoio e ajuda dos Estados Unidos, na luta que durou 10 anos contra a ocupação da União Soviética no território afegão.

Os americanos treinaram e deram equipamentos aos talibãs, que tiveram rígida formação fundamentalista em seminários religiosos, com a promessa de ordem e segurança para governar o país.

Em 1996, a derrota  da União Soviética e consequente saída dos russos, levou os talibãs a assumirem o poder no Afeganistão, apoiados pela Casa Branca.

O conflito com os Estados Unidos teve início, após os ataques às Torres Gêmeas de Nova York, em 11 de setembro de 2001.

O governo americano culpou a rede terrorista Al Qaeda e declarou guerra ao Talibã, onde Bin Laden, líder do grupo, teria encontrado refúgio.

A consequência foi a “Operação Liberdade Duradoura”, que ocupou militarmente o país e dizia ter o objetivo de implantação da democracia.

Nessa época, predominava o regime fundamentalista islâmico mais radical da história, com  proibições, obrigações e desagregação causada pelos permanentes conflitos.

Ocorria verdadeiro trucidamento das mulheres afegãs, que a partir dos 10 anos, já não podiam sair à rua sem ser acompanhadas por um homem de sua família e sem a cobertura de uma “burca (veste que oculta o corpo inteiro, exceto por uma abertura na altura dos olhos).

Era aplicado o apedrejamento por adultério, amputação de membros por roubo, proibição da criança estudar além da escola primária. Mulheres viviam na dependência dos homens para limpar, cozinhar e satisfazer seus apetites sexuais. Sem nenhum contato com o exterior. Não havia internet e os talibãs proibiram até a televisão e aboliram toda a expressão cultural (cinema, música, televisão).

Depois de 20 anos de ocupação, trilhões de dólares gastos, 2.448 mortos, 20.772 feridos e milhares de outros, os americanos voltaram às suas casas com traumas, que afetam até a saúde mental.

Para a população afegã, a presença americana não significou melhoria da qualidade de vida local. Os efeitos se limirtaram ao isolamento imposto aos talibãs.

No período da ocupação, aumentaram os índices de pobreza e cresceu o sentimento popular antiamericano, que perdura até hoje.

Os afegãos mantêm cooperação com o Brasil nas áreas de energias renováveis, mineração, educação e tecnologia eleitoral.

A grande questão em debate,  acerca do mundo islâmico, resume-se ao  choque de interpretação entre o Alcorão (livro sagrado dos muçulmanos) e a “sharia” (“legislação’, em árabe), que rege desde contratos comerciais e o modo de fazer negócios até a herança de viúvas.

No Oriente Médio e outras regiões onde prevalece o maometanismo, muitos países muçulmanos deixaram de interpretar de forma rígida a lei islâmica, adotando a separação entre a religião e a vida civil.

No momento, o temor é que o controle Talibã no Afeganistão imponha a interpretação ortodoxa da “sharia”, inclusive com a criação da polícia moral, que fiscaliza o comportamento da população.

Observa-se um esforço entre os povos muçulmanos, no sentido de estabelecerem diferenças entre a “rigidez” da “sharia” (aceita pelos talibãs) e o verdadeiro Alcorão. 

A “sharia” aprova a poligamia, o divorcio e permite que os homens se casem com meninas de nove anos.

Já o Corão vincula à garantia para as órfãs, aconselha a monogamia e dá como exemplo, o profeta Maomé, que se casou com Cadija a primeira mulher muçulmana na história. Ela foi viúva  duas vezes, 15 anos mais velha e ele não voltou a se casar, enquanto ela estava viva. Viveram 25 anos.

Cabe observar, que o Afeganistão é formado também por minorias étnicas muçulmanas, que não aderem aos códigos ortodoxos de opressão das mulheres defendidos pelos talibãs. 

Cerca da metade da população, incluindo quase 10 milhões de crianças, precisa de ajuda humanitária. Mais da metade de todas as crianças com menos de 5 anos está desnutrida.

A ONU estima que quase 400.000 afegãos foram forçados a deixar suas residências até agora, sendo que 300 mil pessoas perderam suas vidas.  

Esse é mais um gravíssimo problema global, a ser conduzido, no período após a pandemia.

 

 

 

 

 

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