Postado às 05h58 | 14 Mai 2020
Ney Lopes
Desnecessariamente, o presidente reaviva a polemica e volta a atacar governadores e prefeitos, insistindo na flexibilização do isolamento social. Inverte os papéis, ao omitir o anuncio de plano oficial consistente (critérios rígidos de proteção à vida), que permitisse enfrentar o maior inimigo do “emprego do trabalhador”, que é o coronavírus. O chefe do governo coloca a questão politicamente. Radicaliza e coloca o terrível dilema de “comer ou morrer”.
Ou seja, os mais pobres, cumprindo o isolamento social, não terão o que comer e morrerão de fome. Nitidamente, esse raciocínio (que não é só de Bolsonaro, mas sobretudo da equipe econômica, capitaneada pelo “czar” Paulo Guedes), considera inevitável e normal o aumento dos óbitos, com a volta ao trabalho.
Para “enganar” os incautos, a proposta é maquilada com a proteção aos idosos, apenas para esconder a verdade, que é priorizar a economia. Impressionante como o debate aglutina adeptos, com pessoas se assemelhando aos “xiitas”, defensores dos “aiatolás”, que invocam as leis do Islão e sacrificam a própria vida.
A história das epidemias mostra que o “isolamento” protege as pessoas humanas. Entre os anos de 430 e 428 AC houve grande praga em Atenas. A causa foi a aglomeração nas ruas. Na “gripe espanhola”, a cidade da Filadélfia (1918) ignorou o distanciamento social, realizou parada com 200 mil pessoas e morreram milhares de pessoas. Na mesma época, a cidade de Saint Louis cancelou seu desfile e fechou escolas, hotéis, cinemas, restaurantes, bares, teatros e igrejas e evitou o crescimento da epidemia.
Estudo científico (Federal Reserve e o MIT) observou o comportamento de 43 cidades americanas, depois da gripe espanhola. Concluiu que o isolamento conteve a propagação do vírus e fez com que a atividade econômica se recuperasse mais rápido. Há até quem compare o coronavirus com mortes por tuberculose, doença que tem cura.
Esquecem, que na pandemia, predomina o descontrole, por inexistir vacina e remédios efetivos.
No momento, o verdadeiro dilema não é “comer ou morrer”, mas sim “ter bom senso, ou não”