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Oposição volta às ruas em ato contra Bolsonaro, mas com pouca adesão além da esquerda

Postado às 06h31 | 03 Out 2021

A oposição a Jair Bolsonaro, liderada por partidos de esquerda, manteve a pressão das ruas sobre o presidente ao promover atos em todas as capitais e em pelo menos outras dezenas de cidades do País. Além do impeachment de Bolsonaro, os protestos de ontem deram protagonismo aos efeitos da deterioração econômica sobre a população, como a alta da inflação, sobretudo de combustíveis e alimentos, e o desemprego.

Ao todo, nove partidos – PT, PSOL, PCdoB, PDT, PSB, Rede, PV, Cidadania e Solidariedade – atuaram na articulação dos atos, mas não conseguiram atrair a presença de líderes políticos além da esquerda. Único presidenciável presente nas manifestações, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) sofreu hostilidades na Avenida Paulista. 

Os atos foram realizados três semanas após os protestos convocados pelos grupos de centro-direita Movimento Brasil Livre (MBL), Vem Pra Rua e Livres, que tiveram baixa adesão. Ontem, a presença de manifestantes nas ruas foi visivelmente mais significativa, principalmente no Rio e em São Paulo.

Na capital paulista, os manifestantes chegaram a ocupar dez quarteirões da Avenida Paulista. O ponto de maior concentração foi em frente ao Masp. A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, no entanto, calculou que o protesto na capital reuniu cerca de 8 mil pessoas. No 7 de Setembro, a secretaria estimou 125 mil pessoas no ato do qual participou Bolsonaro – na ocasião, os manifestantes ocuparam cerca de 12 quarteirões da avenida. Nas outras capitais mais importantes do País não houve estimativas oficiais.

Milhares de pessoas foram às ruas do centro do Rio. Além do “Fora Bolsonaro”, o protesto focou na carestia de alimentos e combustíveis. A exemplo do que ocorreu em outras capitais, botijões de gás infláveis foram levados para as ruas com os dizeres: “Tá caro? Culpa do Bolsonaro”. Cartazes faziam referência à fome e ao desemprego.

Em Brasília, manifestantes ocuparam a Esplanada dos Ministérios para cobrar o impeachment do presidente. O protesto também teve como alvo a reforma administrativa que está sendo discutida no Congresso e enfrenta a resistência da oposição e dos sindicatos alinhados a ela. O protesto reforçou as queixas contra a disparada da inflação. Além dos infláveis que reproduziam botijões de gás, outros mostravam a imagem do ministro da Economia, Paulo Guedes, num pacote de arroz, item da cesta básica que também pesou na alta de preços. 

Estimulados pela ampliação do número de partidos na articulação dos atos, líderes da esquerda e centro-esquerda – como os ex-ministros Ciro Gomes (PDT) e Fernando Haddad (PT), além de Guilherme Boulos (PSOL) – defenderam em São Paulo uma unidade da oposição pelo impedimento de Bolsonaro. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mais uma vez, ficou de fora.

Ciro foi, ao mesmo tempo, vaiado e aplaudido durante sua fala na Paulista. O discurso incendiou a militância petista: muitos presentes gritaram o nome de Lula e fizeram a letra L com as mãos. Alguns atiraram objetos em direção ao presidenciável do PDT.

Em seu discurso, Ciro pediu o impeachment de Bolsonaro e defendeu a derrubada da “serpente bolsonarista” no País. O político também disse ser contra o “fascismo” e que a hora de Bolsonaro “está chegando”. “O povo brasileiro é muito maior que o fascismo de vermelho ou de verde e amarelo”, afirmou. 

Ex-candidato à Prefeitura de São Paulo, Boulos abriu o último bloco do ato na Paulista destacando a diversidade de pessoas e partidos presentes. “Gente, inclusive, com quem a gente tem muita diferença”, afirmou. Na sequência, disse que as diferenças são menores do que a união para “tirar Bolsonaro”. 

Haddad, por sua vez, defendeu o fim do governo Bolsonaro antes das eleições de 2022. “Não podemos perder de vista o que nós estamos fazendo aqui”, disse. “Estamos aqui porque o povo quer comer e Bolsonaro não deixa, o povo quer estudar e Bolsonaro não deixa, quer trabalhar e o governo Bolsonaro não deixa.” O deputado carioca Marcelo Freixo (PSB), que também discursou no ato, falou em “buscar o sentimento comum”. “O sentimento comum é ‘fora Bolsonaro’. As ruas estão pedindo a nossa unidade”, declarou Freixo.

Ao menos 20 cidades do interior de São Paulo também registraram protestos contra o governo. As manifestações tiveram mais público do que os protestos de 12 de setembro. A tônica dos atos, organizados por partidos de esquerda, entidades estudantis e movimentos sociais, foi em defesa da democracia e críticas à política econômica do atual governo.

Recife. Em Pernambuco, os atos também tiveram como mote, além do impeachment de Bolsonaro, a inflação, o desemprego e a fome. No fim da tarde deste sábado, a Ordem dos Advogados do Brasil em Pernambuco (OAB-PE) divulgou uma nota na qual diz que recebeu “com indignação a notícia do atropelamento de uma advogada” durante as manifestações. A advogada integra a Comissão de Advocacia Popular da OAB-PE. 

Segundo o comunicado da entidade, “a seccional prestará assistência à profissional e acompanhará o caso para assegurar uma apuração dos fatos.” / CÁSSIA MIRANDA, DAVI MEDEIROS, CAIO SARTORI, MARCELO DE MORAES, LEVY TELES, JOSÉ MARIA TOMAZELA e MONICA BERNARDES, ESPECIAL PARA O ESTADÃO

 

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