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Saudação: "Seja bem-vindo Dom João!"

Postado às 04h12 | 04 Out 2023

Ney Lopes

No sábado, 7 de outubro, Dom João Santos Cardoso, 61, se tornará o sétimo Arcebispo Metropolitano de Natal, em solenidade na Catedral Metropolitana, às 8 horas.

Ausente do estado participarei in intentione do solene ato litúrgico.

O espírito missionário de Dom João Santos Cardoso o credencia para essa nova missão apostólica.

A sua linha de ação nas dioceses que comandou é voltada para o ensinamento essencial da fé, não apenas da doutrina, como também da vida.

História – Conheço a história da Arquidiocese de Natal, marcada pelo martírio dos Protomártires do Brasil, em Cunhaú e Uruaçu, em 1645 e inserido no contexto da ocupação holandesa no Nordeste.

A tradição da Arquidiocese registra clérigos, que a dirigiram com zelo e dedicação.

Foram eles: Dom Antônio dos Santos Cabral, Dom José Pereira Alves, Dom Marcolino Esmeraldo de Souza Dantas, Dom Eugênio Sales, Dom Nivaldo Monte, Dom Antônio Soares Costa, Dom Alair Vilar Fernandes de Melo, Dom Heitor de Araújo Sales, Dom Matias Patrício de Macêdo e Dom Jaime Vieira Rocha.

Adolescente – Ao saudar Dom João, o bispo que chega e sem omitir as valiosas conquistas dos bispos predecessores, relembro alguns fatos da convivência com D. Eugênio Sales, que retratam o pioneirismo da Igreja potiguar.

Adolescente e militante da então Juventude Estudantil Católica, comecei a trabalhar com ele na Emissora de Educação Rural de Natal e jornal A Ordem.

Aprendi lições de humanismo, ética na informação e respeito à pessoa humana.

Jornal 'A Ordem" – Inspirado na preocupação da Igreja com problemas sociais, escrevi a série de reportagem “A cidade por dentro”.

Percorri alagadiços, favelas, comunidades de Natal.

Relatei várias histórias de vida e a convivência da “opulência” com a “pobreza”.

Raio X da desigualdade social, na capital do RN.

Com esse trabalho jornalístico, aos 17 anos, ganhei o prêmio Esso regional de reportagem.

Proteção - Grande injustiça acusar D, Eugênio de conivente com o golpe militar de 1964.

Presenciei a proteção dele a perseguidos políticos, com uma firmeza que desarmava os militares.

O jornalista Carlos Heitor Cony, em livro escreveu:

Eu próprio, em certa época, fui rastreado por ele e por seus auxiliares, dom Eduardo e dom Rafael. Em alguns momentos de perigo que atravessei, ia dormir na casa de dom Eugenio, no Sumaré”.

Leigos – O “bispo Eugênio” congregava e motivava a todos.

Colaboraram na sua obra valorosos conterrâneos, como Dr. Otto de Brito Guerra, exemplo de leigo cristão; Dr. João Wilson Mendes Melo; Artur Vilar; Felipe Neri de Andrade; Ulisses de Góis e tantos outros soldados do exército de D. Eugenio.

Campanha - Vi nascer a Campanha da Fraternidade, criada por D. Eugenio Sales, em Nísia Floresta/RN (1962), assumida na quaresma de 1964, pelo conjunto das Dioceses do Brasil.

Igualmente o trabalho pioneiro nas “Comunidades Eclesiais de Base” com as ações em São Paulo do Potengi (RN) e as “Escolas Radiofônicas”.

Repercussão internacional - O “Movimento de Natal” desponta como uma das iniciativas que se propagou a níveis nacional e internacional.

Tratava-se de um conjunto de serviços e atividades nas cidades e no campo, que abrangia: sindicatos rurais, colônias agrícolas, escolas radiofônicas, semanas rurais, treinamento para padres, religiosas e leigos, e organização de comunidades.

Transformou-se em instrumento inspirado na doutrina social da Igreja, com o objetivo de amenizar, diminuir a situação de penúria nas regiões interioranas do estado.

Um fato – O Cardeal Eugênio sempre foi simples, afável e brincalhão.

Lembro que, em 1992, já como deputado federal e representante do Parlamento Latino-Americano, sentei-me ao seu lado, do ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore e outras autoridades, na mesa principal de um painel de debate, durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (ECO 92), realizada no Rio de Janeiro.  

A certa altura, D. Eugenio cochichou ao meu ouvido:

“Você já pensou Ney: eu de Acari e você de Natal sentados nessa mesa, ao lado de tanta gente importante! ”

Alegria – A chegada de Dom João Santos Cardoso, pelo seu edificante testemunho de sabedoria e dedicação à Igreja, alegra todos os fiéis, presbíteros, diáconos, religiosos (as) e leigos.

Faço votos, que Deus derrame bênçãos sobre o novo ministério episcopal e que seja fecundo o pastoreio, em nossa querida Arquidiocese de Natal

Bem-vindo, Dom João!

O autor do texto se ausentará, até o dia 26 de outubro.

(Artigo publicado hoje no Jornal "AGORA RN", em Natal)

 

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