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Sem líder e divididos, palestinos estão cada vez mais isolados

Postado às 07h18 | 25 Dez 2020

Guga Chacra

Os palestinos celebrarão o Natal em Belém, onde, segundo a tradição cristã, nasceu Jesus. Assim como nas últimas sete décadas, sem um país independente e sem um acordo de paz com Israel. Seguem cada vez mais isolados e com o sonho da Palestina distante. Mais longe do que nos anos 1990, mais longe do que em 2000 e mais longe do que em 2010.

No fim do ano passado, escrevi um artigo com o título de “o ano do esquecimento da Palestina”. Desta vez, é “o ano do isolamento da Palestina”. Nunca os palestinos estiveram tão isolados como em 2020. A chamada “causa palestina” oficialmente deixou de ser prioridade para as nações árabes.

Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Sudão e Marrocos assinaram acordo de estabelecimento de relações com Israel. A Arábia Saudita, Qatar, Kuwait, Omã e Tunísia ainda não formalizaram os laços. Mas todos mantêm contatos próximos com os israelenses. No caso dos sauditas, são aliados formais contra o Irã.

Egito e Jordânia têm acordo de paz com Israel há décadas. Mesmo a Síria, convenhamos, esteve próxima no fim dos anos 1990 e também em 2008 de um acordo com os israelenses, independentemente dos palestinos. O Líbano tem enormes complexidades internas que atrapalham uma negociação, como a presença armada do Hezbollah, mais preocupado com os interesses iranianos.

Aliás, mesmo o Irã não se importa com os palestinos. Seu conflito com Israel até prejudica muitas vezes a causa palestina, que acaba associada a esse regime. A Turquia de Erdogan também fica com uma retórica anti-Israel, que não necessariamente ajuda os palestinos.

Donald Trump foi sem dúvida o mais anti-Palestina de todos os presidentes americanos. Com Biden, certamente as relações dos EUA com a Autoridade Nacional Palestina melhorarão. Talvez haja pressão para retomada das negociações, que tendem a não avançar. Israel realizará eleições pela quarta vez em dois anos. O resultado é incerto. Mas rivais de Netanyahu são de direita como o atual premier e não têm uma agenda favorável à criação de um Estado palestino. A prioridade será assinar mais acordos com outros países árabes.

Os palestinos tampouco têm uma liderança neste momento. Estão divididos. Gaza é governada pela ditadura do Hamas. A Cisjordânia, pela Autoridade Nacional Palestina, que não realiza eleições desde 2005. Mahmoud Abbas, aos 85 anos, se perpetuou no poder. Sua administração é marcada por corrupção, incompetência e fracasso no objetivo de ter uma nação independente.

Está na hora de os palestinos terem um novo líder. Deveria ser escolhido democraticamente. Se eu pudesse aconselhar os palestinos, recomendaria o nome de Hanan Ashrawi, uma figura histórica da Organização pela Libertação da Palestina. Mulher, de origem cristã, sempre teve a causa palestina como sua prioridade. Nunca esteve envolvida em terrorismo ou radicalismo. É respeitada internacionalmente.

Quem sabe ela poderia ajudar a reduzir o isolamento palestino. E o Natal em Belém fosse celebrado em uma Palestina independente e em paz com Israel. Não custa sonhar. Vamos torcer para o título do meu artigo no ano que vem ser mais positivo.

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