Postado às 15h15 | 15 Mai 2020
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não está sozinho em sua defesa inabalável da cloroquina para o tratamento da Covid-19 apesar da falta de evidências médicas que o respaldem.
Nesta quinta-feira (14), o ditador Nicolás Maduro publicou em rede social um agradecimento aos profissionais da saúde e de pesquisa da Venezuela pelo uso da cloroquina contra o novo coronavírus. "Com eles [cientistas e médicos], avançamos na produção de difosfato de cloroquina, um medicamento eficaz para o tratamento contra a Covid-19. Sim, nós podemos, Venezuela", escreveu
No mesmo dia, o presidente da Assembléia Nacional Constituinte da Venezuela, Diosdado Cabello, ameaçou pesquisadores após a publicação de um estudo que indicava subnotificação de casos de coronavírus no país.
Não é a primeira vez que o ditador venezuelano cita tratamentos que não têm respaldo na literatura médica.
Em março, Maduro recomendou em publicação uma mistura de ervas como antídoto para o coronavírus. Segundo ele, três estudos indicavam eficácia do uso de capim-santo, sabugueiro, gengibre, pimenta-do-reino, limão e mel de abelha. A publicação foi apagada pela rede social por conter informações falsas.
O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (sem partido) também faz lobby pelo uso da cloroquina contra o novo coronavírus.
A insistência do presidente para fazer do uso da cloroquina uma política pública contra a Covid-19 levou o ministro da Saúde Nelson Teich a pedir demissão nesta sexta (15), menos de um mês após ter assumido o cargo.
A gota d'água para Teich teria sido um ultimato do presidente para que ele se alinhasse à opinião de Bolsonaro de que o remédio é eficaz contra a doença. Teich teria se recusado a apoiar o presidente quanto à adoção do remédio e optou por deixar o governo.
eu antecessor, o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, também não aceitou defender a cloroquina e foi demitido por Bolsonaro.
Além de não haver indícios de que a droga realmente funcione contra o coronavírus, há também estudos publicados nas melhores revistas científicas do mundo cujos resultados apontam que o uso do fármaco pode causar arritmia cardiaca e levar à parada do coração.
O resultado de um dos maiores estudos sobre a cloroquina, publicado na revista Jama (Journal of the American Medical Association) e realizado com 1.438 pacientes, revelou que não há redução de mortalidade de pessoas infectadas com coronavírus nem quando a droga é associada a azitromicina.
Outro estudo, este publicado no The New England Journal of Medicine, estudou a eficácia do remédio em 1.376 pacientes e concluiu que não foram encontradas evidências que comprovem a influência da droga na redução de mortes e intubações causadas pela Covid-19.
Até o momento, a Venezuela tem, oficialmente, 455 casos confirmados da doença e pelo menos dez mortos, segundo levantamento da Universidade Johns Hopkins. O Brasil, segundo o Ministério da Saúde, contabiliza mais de 202 mil casos confirmados e quase 14 mil mortes.
Nº de pacientes: 1.376 / Resultados: O estudo observacional (sem intervenção médica) analisou a administração de hidroxicloroquina sozinha ou associada a azitromicina em pacientes com coronavírus para saber se havia benefício para evitar morte ou intubação. Não houve. Entre os pacientes, 811 receberam hidroxicloroquina e 565 não receberam. No fim do estudo 232 pacientes haviam morrido, 1.025 receberam alta e 119 permaneceram internados. Durante o estudo, 346 pacientes morreram ou foram intubados. Segundo os autores, o resultado indica que não há benefício do uso da cloroquina para evitar intubação ou morte